Hoje em dia observam-se por todo o lado tentativas de incentivo às boas práticas alimentares e também à produção e consumo próprio de alimentos, procurando-se regressar aos hábitos agrícolas que se perderam em grande parte pelo movimento migratório da população do campo para a cidade. Como podemos então incentivar a agricultura/cultivo de escala individual? Podemos utilizar o que já existe e por vezes se encontra mal aproveitado, como é o caso das nossas varandas em apartamentos ou mesmo nas nossas casas. Podemos cultivar ervas aromáticas e legumes em vasos que ocupam um espaço reduzido nas nossas varandas e procurar assim fomentar um bom hábito de consumo de legumes caseiros e substituir certos temperos prejudiciais à nossa saúde por condimentos naturais de ervas aromáticas que se adequam aos mais variados pratos.

Ponto de partida

A cidade do Porto é uma das cidades mais populosas de Portugal, com um valor aproximado de 237 591 habitantes (Censos 2011, INE) que se aglomeram numa área de 41,42 km2 (CAOP 2013, IGeoE). Estes valores representam um elevado número de edifícios habitacionais em altura numa cidade com uma densidade populacional de 5736,1 hab/km2 (Censos 2011, INE).

Com todo o edificado, vias rodoviárias, vias ferroviárias e espaços públicos (como jardins e praças) sobra muito pouco espaço para a utilização/exploração agrícola de terrenos. Embora se tenham exercido esforços no sentido de se criarem espaços próximos da cidade para a exploração agrícola, como é o caso do projeto “Horta à Porta”[1], entre outros, estes não são ainda suficientes para servir todos os interessados, quer pela ausência de terrenos quer pelo tempo que é necessário dispor de forma a obter uma boa horta.

O planeamento urbano, nascido da necessidade de pensar o território de forma a torná-lo funcional e prático mas também saudável, nem sempre consegue responder a esta problemática especialmente em territórios já profundamente urbanizados, como é o caso do Porto.

A Ideia

Como foi referido anteriormente, devido à densidade populacional da cidade do Porto, existem diversos edifícios habitacionais em altura, ou seja, prédios, que por norma têm uma ou duas (por vezes mais) varandas por apartamento. Estes espaços vazios podem ser aproveitados para contornar o problema da falta de terrenos para a utilização agrícola.

O que se propõe é a criação de um projeto que promova a criação de pequenas hortas em varandas. Uma parceria entre o município e associações de agricultura locais ou nacionais[2] seria o ideal para liderar este projeto propiciando um conjunto de ações de formação sobre a construção de hortas em varandas (como fazer, materiais a utilizar, etc.) e sobre o tipo de produtos que se podem cultivar nesses espaços.

Um bom exemplo daquilo que se pode facilmente plantar e manter numa varanda são ervas aromáticas que pela sua dimensão e necessidades requerem pouco espaço. Se tivermos em atenção os repetidos alertas da Direção Geral de Saúde (DGS)[3] sobre a necessidade de diminuir o consumo de sal, que tem conduzido a valores elevados de hipertensão e doenças cardiovasculares na população portuguesa, podemos ver como o incentivo à plantação e consumo próprio de ervas aromáticas e outras plantas medicinais de pequeno porte seria um passo, entre outras medidas actualmente em curso, para a resolução deste problema.

Em termos logísticos seria necessário um acordo entre parceiros sobre a remuneração dos formadores, a disponibilização de um local para a realização das formações e uma boa campanha de divulgação/incentivo para a população. Terminadas as formações seria da responsabilidade do cidadão a obtenção dos materiais e produtos necessários para a criação da sua própria varanda verde de acordo com as suas preferências.

A criação destas hortas em varandas é normalmente de iniciativa particular e individual onde o cidadão não tem qualquer apoio especializado. No entanto há excepções e parece que esta ideia começa a ganhar algum apoio, como no caso do município de Palmela que organizou em Março deste ano uma oficina intitulada “Hortas de varanda”.


Conclusão

A densa urbanização das cidades torna cada vez mais impraticável a utilização de terrenos para agricultura de consumo próprio, geralmente seria necessária uma deslocação longa para encontrar terrenos adequados entrando em conflito com as rotinas praticadas hoje em dia em termos de horários de trabalho e deslocações casa ↔ trabalho. A utilização das nossas próprias varandas para este efeito torna-se então numa resolução simples e apelativa que envolve custos muito mais reduzidos para os interessados.

Desta forma, o envolvimento dos organismos oficiais neste tipo de prática seria muito relevante quer em termos de incentivo para a população como para a fomentação de boas práticas. O acompanhamento de uma formação seria essencial para evitar certos erros nesta prática e também para evitar excessos (água, plantas, etc.) que podem resultar em custos mais elevados para o cidadão.

O incentivo para o consumo próprio de legumes e ervas aromáticas tem vindo a ganhar relevância no panorama nacional, quer pela redução na carga de despesas do consumidor, quer pela importância para uma boa alimentação, variada e com qualidade, que resultará sem qualquer dúvida em níveis de saúde mais satisfatórios.

 

[1] Projeto “Horta à Porta”, criado em Julho de 2003 numa parceria entre a empresa Lipor e os municípios da Região do Grande Porto que tem como intuito promover a compostagem caseira, a criação de hortas e a prática da agricultura biológica. Este projeto oferece ao cidadão a oportunidade de se candidatar à atribuição de um talhão de 25m2 e a oportunidade de assistir a ações de formação sobre agricultura biológica. (http://www.lipor.pt/pt/educacao-ambiental/horta-da-formiga/agricultura-biologica/horta-a-porta/)

[2] Exemplo: AGROBIO – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (www.agrobio.pt)

[3] Está em curso o Movimento 2020 “Reduzir o consumo de sal” que estabelece um conjunto de desafios e medidas para que se consiga reduzir o consumo de sal em cada refeição do cidadão Português (http://www.movimento2020.org/os-desafios/descubra-os-desafios-2020/reduzir-o-consumo-de-sal).