Desde há muitas décadas que se sente a necessidade da existência de um Museu exclusivamente dedicado à História milenar da cidade do Porto. O objectivo desta ideia é pensar uma solução para que a Invicta possa ter um Museu, dirigido a todos os públicos, que dê a conhecer o percurso do Porto ao longo das eras, as suas marcas identitárias, o que desapareceu e o que ficou.

             

A ideia de um Museu do Porto

A ideia da criação de um Museu dedicado, em exclusivo, à história da cidade do Porto não é recente. De facto, já Artur Magalhães Basto, historiador da cidade nas primeiras décadas do século XX, escreve pelo menos numa crónica a necessidade que o Porto tem, com a sua História, de ter um Museu que a relate. E mesmo durante o ”Porto 2001”, a ideia do Museu chegou a ser pensada na requalificação da “Avenida da Ponte”, de Siza Vieira.

Na segunda década do presente século, com a subida em massa do turismo e vários movimentos na cidade que a revitalizam, para além de contar sempre com as suas gentes, a criação de um Museu da Cidade só pode ser visto como uma mais-valia para o Porto. Poderá ser um espaço museológico simples, mas que possa ao mesmo tempo dirigir-se a vários públicos, desde o habitante local que procura saber mais sobre as suas origens até ao turista que procura conhecer um pouco mais da história da cidade que visita, conhecer as suas origens e acontecimentos-chave, as suas peculiaridades, e o que já desapareceu na voragem do progresso. Além disso, será essencial articular o Museu com outros espaços da cidade com o mesmo fim, públicos ou privados, desde os Museus Municipais às colecções particulares, passando talvez por outros pólos de interesse, como monumentos religiosos onde se encontram ainda relíquias do passado portuense.

 

O que contar

É longa e distinta a história da cidade. Desde que os primeiros homens se fixaram na Pena Ventosa (largo da Sé), ainda nos tempos da cultura castreja, passando depois pelas ocupações romanas e suevas, pelas lutas da independência, pela instituição da Igreja como figura central nos tempos medievais, por tantos momentos em que o Porto foi fundamental para o país até aos nossos dias, há uma longa história que merece ter um sítio para ser contada. Um espaço em que se mostre a influência das pessoas, das artes e dos acontecimentos que forjaram a identidade do Porto.

 

Os espaços possíveis

Quer como proposta a debater ou exemplo a dar, podemos avançar com três espaços em que um Museu da cidade faria sentido:

1 – Casa dos 24

A Casa dos 24 (ou Antiga Casa da Câmara) é uma obra recente, de Fernando Távora, construída para o “Porto 2001”, que teve como objectivo dotar a zona da Sé com um espaço ao mesmo tempo moderno mas que invocasse o edifício desaparecido. Com o janelão enorme aberto sobre a cidade, Távora pretendeu criar um edifício que estivesse próximo da cidade. E, a ser escolhido como espaço do Museu, teria a vantagem de estar no local onde a Invicta nasceu, além de poder fazer-se com ele um pólo de Museus na Sé, pois próximos estão a Casa-Museu Guerra Junqueiro, o Museu de Arte Sacra e Arqueologia, para além da própria Sé e dos seus claustros e cabido, onde se encontram vários motivos históricos da cidade. Tem a desvantagem de ser um local excessivamente pequeno, e certamente não poderá ser mudado nada no seu interior. Pode, no entanto, e se tal for o projecto, ser uma introdução à História do Porto, deixando ao visitante a possibilidade de descobrir o resto noutros museus e locais espalhados pela cidade.

 2 – Antigo Museu de etnografia do Porto

No Largo de São João Novo, em frente da Igreja com o mesmo nome, encontra-se um palácio fechado desde 1992. Aqui funcionou de 1945 até ao seu encerramento o Museu de Etnografia do Porto. Embora seja preciso investigar mais sobre a quem pertence o local (parece que ao Estado), teria a vantagem de certamente ser um local com bastante espaço, onde até se poderia, quem sabe, aliar a este Museu a reabertura do antigo Museu que aí existia. Traria a vantagem, ainda, de prolongar o “centro histórico” mais conhecido para uma área um pouco negligenciada, onde ainda não houve grande intervenção, podendo ao mesmo tempo chamar a atenção para outros monumentos ali perto na zona de Miragaia.

 3 – Edifício da Câmara Municipal do Porto

É uma proposta ousada, mas que poderá fazer sentido. O edifício da CMPorto foi aberto em meados dos anos 50 depois de um longo período de obras e tornou-se um  ex-libris da cidade por direito próprio, goste-se ou não. No topo da Avenida dos Aliados, sala de visitas do Porto, a presença do Museu da Cidade neste edifício não poderia ser mais central. Além disso, traria a vantagem de abrir um edifício a que os portuenses e visitantes não podem aceder para o espaço público, podendo parte ou toda a Câmara transferir-se para outro local da cidade que precisasse de desenvolvimento. Esta proposta tem, no entanto, a desvantagem de ser quase impossível de ser concretizada, pois há a ideia generalizada de que a Câmara de uma cidade deve ser no seu centro.

 

Os exemplos internacionais

Um pouco por todo o Mundo as grandes cidades têm um espaço, aberto ao público, a explicar a sua história. O exemplo mais próximo temos de nós é o Museu de Lisboa. Na capital portuguesa foi recentemente inaugurado um Museu distribuído por 5 pólos, que pretende “revelar Lisboa de diferentes formas, para dar a conhecer a riqueza de uma
das cidades mais antigas da Europa”.

No entanto, cidades famosas e com História que nos chega de há muitas eras, têm normalmente um espaço que fala delas, em que a sua História é a protagonista. Barcelona, por exemplo, cidade tantas vezes comparada ao Porto, tem um Museu dedicado à sua História dese 1943. Nele é possível perceber a evolução da cidade condal desde os tempos romanos até aos nossos dias. E, de facto, o Museu teve sucesso, acabando por se expandir.