A região do Porto tem hoje de responder a novos desafios que lhe são colocados, por fenómenos como o turismo ou o regresso de antigos habitantes ao seu domínio territorial. Importa assim que, antes de ser bonita, moderna ou culturalmente relevante, seja uma cidade segura. Afigura-se, assim, muito importante perceber se o Porto está preparado para a possibilidade de ocorrência de fenómenos naturais, como os sismos, quais as debilidades encontradas e de que maneira se poderá preparar, não apenas a cidade, mas toda a Região Norte, para um “dia diferente” do nosso quotidiano.

 

Contexto Tectónico

O território de Portugal continental encontra-se localizado na placa tectónica Euroasiática. Uma vez que a sua localização se situa muito próxima do contacto entre três placas tectónicas, é natural ocorrerem movimentos complexos e acumulações de tensões. A Placa Euroasiática é limitada a sul pela Placa Africana e a oeste pelo “rift” do Atlântico e Placa Norte Americana.

 

Figura 1 – Contexto geotectónico de Portugal com o Banco de Gorringe assinalado no interior da caixa vermelha (fonte: http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/tectonica.html)

Figura 1 – Contexto geotectónico de Portugal com o Banco de Gorringe assinalado no interior da caixa vermelha (fonte: http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NESDE/divulgacao/tectonica.html)

Embora a escala temporal de observação para tais eventos naturais seja muito alargada (centenas de anos), pode dizer-se que  nos últimos anos tem predominado uma atividade sísmica baixa em relação à sua magnitude:

-“ Sismo de magnitude 2.7 na Escala de Richter: registado às 03h15, com epicentro a cerca de 14 quilómetros a sudoeste de Vila do Conde.” – 29.06.2011;

-“Sismo de magnitude 3,1 na escala de Richter: epicentro a cerca de 6 quilómetros a oeste de Paredes, foi sentido, esta quarta-feira, às 17.22 horas, na região Norte.” -13/02/2013;

-“Norte estremece com sismo de 3.0 na Escala de Richter. Epicentro próximo de Braga. Abalo sentido do Porto até Viana.”- 03.05.2015;

-“Abalo de 3.0 na escala de Richter foi hoje sentido a cerca de 4 quilómetros a noroeste de Vale de Cambra “- 24 de Novembro de 2014.

Mas, e se o panorama mudasse subitamente?

 

O que existe

Atualmente, as entidades que atuam na prevenção e reação em caso de emergências desta natureza são nomeadamente, o Instituto Dom Luiz (IDL), o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), os institutos geofísicos das várias universidades portuguesas e a Proteção Civil.

 

O IPMA tem registos permanentemente atualizados sobre a atividade sísmica em Portugal (continental e insular) e surge na linha da frente no que respeita aos avisos preventivos sobre a possibilidade de ocorrência de sismos de elevada magnitude. Esta informação encontra-se facilmente disponível online, no site do IPMA.

Figura 2 – Mapa ilustrativo das últimas ocorrências sísmicas registadas para o período 11/08/2015 a 10/09/2015 (fonte:https://www.ipma.pt/pt/geofisica/sismicidade/index.jsp)

Figura 2 – Mapa ilustrativo das últimas ocorrências sísmicas registadas para o período 11/08/2015 a 10/09/2015 (fonte:https://www.ipma.pt/pt/geofisica/sismicidade/index.jsp)

O mapa da Figura 2 assinala os locais dos sismos registados entre 11 de Agosto e 10 de Setembro de 2015. Todos os dias as estações sísmicas ao longo do país registam vários sismos que ocorrem nas proximidades ou mesmo no interior do nosso território.

Já a Proteção Civil tem como missões o levantamento, previsão, avaliação e prevenção dos riscos coletivos; análise permanente das vulnerabilidades perante situações de risco;

informação e formação das populações, visando a sua sensibilização em matéria de auto proteção e colaboração com as autoridades; estudo e divulgação de formas adequadas de proteção de edifícios, de monumentos, de infraestruturas, do património arquivístico, de instalações de serviços essenciais, bem como do ambiente e dos recursos naturais

 

No que toca aos edifícios do Porto, sobretudo na baixa e zonas ribeirinhas da cidade, estes encontram-se algo desprotegidos no que respeita à ocorrência de um sismo, sendo os sistemas de segurança e a legislação respeitante aos edifícios bastante omissa quanto a este tema.

Em sentido inverso, por exemplo em matérias como incêndios, existe legislação vasta, a qual obriga a determinados procedimentos como é exemplo a afixação de placards de informação com as saídas de emergência e os pontos de acesso a extintores.

Atualmente existe uma maior preocupação com os fenómenos sísmicos, mas a verdade é que os prédios mais antigos têm as suas fundações debelitadas, e tanto prédios antigos como os mais novos são omissos quanto à informação veiculada ao público sobre sismos.

 

O que se propõe:

A criação de um símbolo universal, exigido por lei (local ou nacional) em todos os edifícios públicos ou de acesso público, colocado nos pontos estruturais mais resistentes (vigas/colunas principais de sustentação), para que em caso de sismo as pessoas dentro destes pudessem facilmente perceber junto de quais paredes ou colunas se devem colocar, protegendo-se mais eficazmente pelo tempo que for necessário.

Este símbolo deve ser pequeno, percetível, com um desenho que permita a fácil assimilação do seu propósito e esteticamente neutro.

Alguns exemplos de símbolos com estas características:

Screenshot 2016-06-14 19.24.48

 

De modo a evidenciar esta informação de segurança, estes símbolos devem ser complementados com a afixação, em cada piso, do mapa estrutural do edifício, onde sejam assinalados os locais onde a estrutura do prédio apresenta maior resistência, e onde em casos extremos de desmoronamento do mesmo é sempre encontrado o maior número de sobreviventes.

 

Poderia ser ainda interessante complementar este mapa estrutural com uma legenda informativa, com instruções básicas vitais dos procedimentos a adotar em caso de ocorrência de sismo.

 

Exemplos internacionais

Em S. Francisco, Califórnia (E.U.A), a cidade adotou um sistema nos edifícios de utilização pública que permite às pessoas aceder a informação útil de rápida assimilação, como a capacidade de cada um desses edifícios em suportar um sismo (nas suas variadas magnitudes).

Desse modo garantiu-se uma maior eficácia na prevenção de acidentes mortais na eventualidade de ocorrer um sismo.

http://www.reuters.com/article/us-usa-earthquakes-sanfrancisco-idUSKBN0HB2MW20140916

 

Existe, ainda, uma comunidade constituída especificamente para a prevenção sismológica, possuindo, entre outras mais valias, uma secção bastante explícita quanto aos principais focos de acidentes com sismos, dentro e ao redor de edifícios, os quais se enquadram em elementos existentes nos edifícios mais antigos e (ainda) desatualizados nas suas infra estruturas.

http://www.earthquakecountry.org/step4/vulnerable.html

 

Custos Associados

O custo imediato desta inovação seria o da criação de tal sistema (símbolo+mapa estrutural com legenda informativa), com as características enunciadas, e a publicidade a este;

Seria ainda necessário custear a integração deste sistema nos edifícios, devendo a lei (local ou até mesmo nacional) obrigar a tal;

Adicionalmente teria sempre de se pensar nos custos da aprovação da implementação deste sistema em cada edifício, pelas entidades competentes;

Por cada edifício o custo de implementação e fiscalização nunca deverá ser, assim, superior à meia dúzia de milhares de euros.

 

Vantagens

Para além das vantagens óbvias de potencialmente salvar mais vidas humanas em caso de um evento sísmico, é muito importante reconhecer a necessidade de consciencialização face a este risco natural.

Sendo um evento sísmico algo que acontece numa escala temporal muito alargada, torna-se muito importante promover a consciencialização e familiarização com o evento.

Existem vários exemplos em como até um evento de baixa magnitude pode resultar numa catástrofe se o pânico se instalar e se a resposta for deficiente ou demorada.

 

Assim

Munidas desta informação, as pessoas poderão optar corretamente por uma atuação que fará a diferença entre a sua morte ou sobrevivência!