Cada Português produz, em média, meia tonelada de lixo por ano. O consumismo (e não dizemos isto de forma negativa ou positiva) é uma expressão da sociedade moderna, e simboliza a forma como nos relacionamos com os produtos.

Ao mesmo tempo Câmaras, Juntas, Empresas, deixam de ter utilidade para inúmeros objectos que podem ser re-interpretados como forma de expressão.

As ideias culturais necessitam de ser assimiladas com espírito aberto para o que não é explicito, mas sim implícito nas diferentes formas de expressão.

Propomos assim a ideia de utilizar estes materiais em obras de expressão artística, à semelhança do que é já feito em muitos lugares a nível Mundial. Seria uma forma de sensibilização para a quantidade extraordinária de produtos que desperdiçamos todos os meses, e uma maneira de ensinar a todos novas formas de aproveitamento.

Em 2010, cada português produziu em média 511 Kg de lixo. Ainda, segundo o relatório de 2013 da “The World Bank”, em média, cada cidadão Português residente em área urbana produziu cerca de 800 Kg de lixo.

Lixo_The_Economist

As projeções para 2025 não são de todo animadores, visto que a média por cidadão tende a estabilizar mas prevê-se um aumento de cerca 20% dos residentes em áreas urbanas.

As atuais normas Europeias e Mundiais de acondicionamento e transporte de produtos e mercadorias provocaram um aumento marcante de materiais utilizados exclusivamente para esses fins, sendo posteriormente descartados e contando para as crescentes médias de produção de resíduos. Certo é que muitos desses materiais são posteriormente enviados para um processo de reciclagem e reutilização. Contudo, ficarão certamente espantados com a enorme lista de materiais não suscetíveis a este procedimento de gestão de resíduos.

Materiais impróprios para Reciclagem
Papel vegetal
Papel celofane
Papéis encerados ou impregnados com substâncias impermeáveis
Papel-carbono
Papéis sanitários usados
Papéis sujos, engordurados ou contaminados com alguma substância nociva à saúde
Papéis revestidos com algum tipo de parafina ou silicone
Fotografias
Fitas adesivas e etiquetas adesivas
Plásticos termofixos
Plásticos tipo celofane
Embalagens plásticas metalizadas
Isoport
Espelhos
Vidros de janela
Vidros de automóveis
Lâmpadas
Tubos de televisão e válvulas
Ampolas de medicamentos
Cristal
Vidros temperados planos ou de utensílios domésticos

Ao olharmos para esta lista muitas foram as possibilidades a considerar. Na verdade, todos nós fizemos já trabalhos de expressão artística, pelo menos em atividades letivas, usando alguns dos utensílios acima descritos. Ainda, vários são os exemplos internacionais de sucesso utilizando resíduos.

Um dos mais paradigmáticos é no Paraguai, em Cateura, uma cidade repleta de lixo proveniente de todo o Mundo. Foi aqui que um maestro proporcionou uma oportunidade única a crianças, cuja alternativa se prenderia não com o trabalho com lixo, mas sim com o trabalho no meio do lixo. Este projeto respondeu ao Mundo com uma frase marcante: “O mundo mandou-nos lixo, nós mandamos de volta música”.

Ainda no mundo da música, e sendo um exemplo já bem conhecido de alguns Portuenses temos os STOMP, um projeto musical com origem em Brighton, Reino Unido, mundialmente famoso pelos seus espetáculos de música e dança com objetos do quotidiano, muitos deles encontrados comumente no lixo que produzimos.

No que respeita às artes plásticas, começam agora a surgir movimentos de utilização de resíduos comuns para criação de obras de arte. Damos como exemplo disto a organização WebUrbanist cujas obras, fruto de criatividade e um grande monte de lixo, resultam em trabalhos de altíssima qualidade.

Assim, num pequeno esforço por parte do município, poderiam ser disponibilizados alguns dos resíduos impróprios para reciclagem para a utilização gratuita por parte dos cidadãos, de forma a estimular a criatividade dos mesmos. Num futuro próximo, poderia inclusive ser criado um pequeno concurso em que as melhores obras, exclusivamente feitas com materiais provenientes de resíduos usados, fossem expostas publicamente. Num pequeno investimento por parte do município, estaríamos assim a abrir um novo mundo de oportunidades para muitos artistas, quer no acesso à matéria-prima para as suas obras, quer na divulgação pública das mesmas, estimulando a criatividade dos Portuenses e divulgando cultura, de acesso gratuito e aberto a toda a população.