Décadas e décadas se passaram e, aos poucos, a população da Invicta foi perdendo o contacto com importantes estruturas da cidade, outrora marcantes e imponentes, e atualmente discretos e sem alma – os coretos. Espalhados por diversos jardins do Porto, os coretos encontram-se atualmente em perfeitas condições de funcionamento mas, por alguma razão, totalmente descorados da sua verdadeira função – a arte. Surge assim a nossa ideia, de devolver a estes espaços a sua função primária, a apresentação e divulgação das mais diversas formas de arte – permitir a artistas amadores a utilização destes espaços para ações individuais e conjuntas, promovendo a criatividade e permitindo um acesso livre a todos aqueles que pretendem tornar público a arte que tão dedicadamente praticam.
Tendo em conta que os coretos foram criados para a divulgação das obras tocadas por bandas filarmónicas e fanfarras, especialmente numa época em que não havia emissões radiofónicas de música, estes tornaram-se importantes espaços onde se faziam ouvir os mais variados reportórios. Ainda que alguns dos coretos existentes sejam relativamente recentes, mesmo os mais antigos encontram-se em perfeito estado de conservação e prontos a albergar novamente aquilo para que foram inicialmente concebidos.
Atualmente, existem eventos esporádicos em alguns coretos do Porto, promovidos, essencialmente, por associações locais ou grupos de amigos para fins de solidariedade e manifestações públicas. Não obstante, e sem pretender tirar o mérito e atribuir o devido respeito a estes grupos, consideramos que continuam a ser subaproveitados dado o seu enorme potencial. Para colmatar este aspeto, propõe-se a criação de uma “Rede de Coretos”, que poderá ser gerida através de uma articulação/colaboração direta entre as Juntas de Freguesia e de um Gabinete/ Departamento (dependente da autarquia) especialmente criado para o efeito.
Por conseguinte, os artistas ou grupos selecionados poderão ser, entre outros, os que não têm condições económicas ou de outro caráter para a divulgação dos seus trabalhos ao público. Para isso, propõe-se a criação de um regulamento e ficha de inscrição, onde se deverá ter em conta o trabalho produzido, a dedicação, o interesse e a qualidade do(s) artista(s). De referir que, numa fase inicial e, considerando tratar-se de um projeto-piloto, deveriam ser selecionados artistas das áreas de arquitetura, escultura, pintura, música, dança, poesia, teatro e cinema. Desta forma, os coretos poderão vir a ser espaços de divulgação de diferentes formas de arte, dependendo sempre do órgão autárquico ao qual poderá ser entregue a gestão da ‘Rede de Coretos’.
Os artistas terão, trimestral, semestral ou anualmente, a possibilidade de expor rotativamente os seus trabalhos pelos diversos coretos da cidade, tendo ainda em conta a atividade quase permanente que se pretende gerar nestes locais, por forma a animar e a atrair os cidadãos para os diferentes eventos que possam vir a ser apresentados. Assim, poderá alcançar-se um outro objetivo, nomeadamente, a renovação e preservação dos espaços verdes, tornando-os atrativos, agradáveis e, ainda, proporcionando uma sensação de segurança à população que usufruirá também de momentos dedicados à criatividade e atividades culturais. Finalmente, o Porto, aproveitando a sua tradição medieval e recente folego cosmopolita, regenerar-se-á através da arte que pode ser divulgada gratuitamente nos mais diversos espaços espalhados pela cidade.
A situação atual do país diminui drasticamente o orçamento disponível, quer por parte de entidades públicas, quer pelos organismos privados, para a divulgação de arte. Esta ideia foi concebida tendo por base estruturas já existentes, em perfeito estado de conservação, e cuja aplicação iria apenas necessitar de uma organização por parte da autarquia por forma a controlar a disponibilidade e a rotatividade dos diferentes coretos espalhados pela cidade. Acreditamos assim que a sua aplicabilidade é simples e poder-se-á apresentar como uma mais-valia para a Invicta.
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